Percurso do Artista

Foi por brincadeira que a minha aventura no artesanato começou, vivendo eu na Graça, em Lisboa, e trabalhando num atelier de publicidade. Como era costume naquela altura, muitos estrangeiros frequentavam as casas dos locais, e eu não fui exceção. Um desses amigos, de nacionalidade alemã, fazia bijutaria em arame de prata, cujo trabalho eu costumava observar e apreciar. Aquando do seu regresso ao seu país deixou em minha casa todo o seu material (três alicates, um rolo de arame de prata e algumas missangas e pedras semi-preciosas), dizendo-me apenas na despedida: “se um dia precisares utiliza”.

Eu achei engraçado devido à minha inexperiência total no que toca a “alicates e pregos”, mas a vida é perita em dar voltas e, passado uns tempos, dei por mim nas paragens do Metro no comércio de brincos e pulseiras, ainda que bastante imperfeitos. Como já tinha conhecimento em macramé e trabalhos em tear (tafetá), o trabalho de linhas foi um acrescento. Nas ruas de Lisboa e não só (Costa da Caparica e Algarve no Verão) aprendi muito com muito bons artesãos (brasileiros, espanhóis, argentinos, entre outros).

Como costumava vender perto do Palácio Foz um dia fui convidado para lá fazer uma Mostra de Artesanato, pela mão da Dr.ª Margarida das Caritas (sendo a minha primeira experiência em 1982 em exposições), seguindo-se a Estufa Fria e posteriormente as escolas de Arte de Lisboa e na cidade Universitária.

Um dia decidi experimentar vender na Feira da Ladra e conheci um artesão que trabalhava em produto feitos de couro. Passado pouco tempo eu e a minha família mudamo-nos para Lexim (Mafra). Este foi o meu primeiro contacto com o couro, ajudando o referido artesão a fazer sandálias, cintos, bolsas e outros acessórios e ele por sua vez dispensou-me uma parte da casa até eu arranjar onde habitar.

Foi graças ao festival de Vilar de Mouros e a um subsídio das Caritas que ganhei a minha autonomia habitacional e montei o meu primeiro atelier de trabalho, comprando ferramentas e matéria-prima de vários estilos. Assim, comecei a vender na Feira da Ladra duas vezes por semana e a fornecer peças nas lojas de artesanato na zona de Cascais, Sintra e Lisboa.

Em 1983 vou pela primeira vez ao Porto no Natal e tive a minha primeira experiência a vender na Rua de Sta. Catarina. Em 1984 regresso por mais uma semana, a qual se estendeu até aos dias de hoje, convertendo-se essa visita numa mudança de residência total para o Porto.
Como artesão urbano, não tinha obrigação de trabalhar só com uma matéria-prima (algo que se estende até aos dias de hoje), assim como as minhas criações nada têm de tradicionais. É o tempo e a experiência que nos faz dar o nosso cunho pessoal às peças que fabricamos e à forma como as fazemos. Todas as minhas obras são de iniciativa própria ou fruto de trocas de ideias entre colegas de rua que, tal como eu, foi assim que começaram. Ao longo dos anos fui adquirindo mais prática e experiência, na constante pesquisa que efetuo.

Em 1999 regresso às feiras de artesanato nacionais, até 2017.

Valeriano Cousas em Couro nasce graças à minha participação em feiras e mercados medievais por todo o país desde 2002 até 2017, tendo sido uma experiência que enriqueceu a minha atividade de várias formas, vindo a criar novos produtos baseados na temática medieval.

No ano 2004/2005 fui formador profissional no curso de “A Arte de trabalhar o Couro”, em Felgueiras.

Valeriano é uma empresa artesanal Unipessoal. Todas as peças são desenhadas, cortadas, furadas e cosidas manualmente ou com a ajuda de um balancé manual. É usado fio de pele, feito manualmente ou fio encebado de sapateiro na sua manufactura. Uma grande percentagem das peles com que trabalho é tratada com produtos de origem vegetal, sendo assim amigas do ambiente. As matérias-primas consistem somente em peles de origem bovina (boi ou vaca), caprina (cabra ou bode) e ovina (ovelha ou carneiro).

Na atualidade continuo a trabalhar com peles mas introduzi novas matérias primas como a cortiça, tecido estampado e madeira. Procuro uma aproximação atual e rejuvenescida à antiga profissão que abracei e que com grande prazer, amor e honra continuo a desempenhar.

Comprar algo artesanal é comprar algo feito por alguém que se importa. Cada uma das peças é tão única como você!